Taí uma coisa que não se aprende em cadeira alguma da faculdade. Levar conforto a uma mãe que acabou de perder seu filho é mais difícil que manejar qualquer paciente grave, por mais obscura que seja a situação clínica. Não há o que dizer, não há palavra que alivie a dor e até mesmo a culpa da pobre criatura que trouxe um ser ao mundo e se vê obrigada a vê-lo partir. É contra-natural, sobre-humano, penso que seja a pior dor que um sujeito seja capaz de suportar. Se é que é todos sejam capazes….
Perder um paciente dói sim. Mesmo que seja aquele com quem nem se desenvolveram laços de afeto, mesmo que não haja fortes vínculos fraternais. Não existe esse papo de que “com o tempo você se acostuma”, ao contrário do que tantos pensam, médico e demais profissionais de saúde não são máquinas de fabricar cura, há pessoas por detrás dos jalecos. Há pessoas que sentem e choram internamente por muitas vezes se sentirem impotentes diante de inevitáveis situações. Sentem por, cada vez que isso acontece, despertarem para a óbvia realidade de que não são deuses, não são senhores da vida e da morte, não detêm o controle “quando chega a hora” de quem quer que seja; o que importa é a tranquila consciência do “fiz tudo o que poderia ter feito”, coisa que por vezes nos falta mesmo tendo esgotado as possibilidades e seguido os protocolos dos tratados e rotinas de serviço. O sentimento de “não ser Deus” incomoda mesmo. E chega a doer. Principalmente naqueles que de fato se importam com a causa. Resta, nesses momentos, permitir que nosso lado humano (sim, somos seres humanos…) trabalhe no sentido de levar conforto aos que ficam, ainda que conscientes de não existir palavra que seja capaz de fazê-lo em sua totalidade.
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